Cláudia Ricaldoni
O Dieese pesquisou 67 setores da economia, a pedido da CUT, para identificar os efeitos da Operação Lava Jato na vida dos trabalhadores e na atividade econômica do país. Infelizmente, o estudo não teve a projeção merecida, dadas as conclusões estarrecedoras.
De acordo com o estudo, em decorrência da Lava Jato o Brasil perdeu R$ 172 bilhões em investimentos e foram destruídos 4,4 milhões de empregos, 25% deles na construção civil, setor intensivo na utilização de mão de obra. A destruição de empregos e a queda na atividade econômica reduziram em R$ 85,8 bilhões a massa salarial dos trabalhadores brasileiros. Os cofres públicos deixaram de arrecadar R$ 47,4 bilhões em impostos, sendo R$ 20,3 bilhões em contribuições sobre a folha de salários. Ou seja, reduziu os recursos destinados a benefícios da Previdência Social.
Óleo e gás: devastação
A cadeia produtiva de óleo e gás, que acumulava pesados investimentos desde a descoberta do pré-sal, foi devastada. Campos de produção de petróleo foram entregues a preço vil para petroleiras multinacionais. A indústria de construção naval renascente foi destruída. A indústria petroquímica brasileira, em vias de se tornar uma das mais importantes do mundo, foi devastada. O fornecimento de serviços de engenharia, plataformas de exploração de petróleo e outros equipamentos passaram a ser encomendados no exterior, destruindo empregos aqui e criando em outros países.
As empresas de engenharia brasileiras, que tinham padrão tecnológico avançado e se expandiam para o exterior, foram destruídas.
Caos e recessão
Os efeitos deletérios se expandiram para outros setores da economia – transporte aéreo, obras de infraestrutura, indústria, construção civil, dentre outros – de tal modo que a economia brasileira mergulhou no caos e na recessão prolongada. O investimento caiu de 21% para 15% do PIB. Fábricas fecham suas portas e investidores estrangeiros abandonam o país, agravando a situação.
A Operação Lava Jato, cujos objetivos políticos e atuação seletiva foram trazidos à tona pelas mensagens divulgadas pela Operação Spoofing, em vez de atacar corruptos e preservar as empresas, fez o contrário. Contribuiu decisivamente para comprometer a sobrevivência de várias empresas importantes, destruindo empregos, e colocou em liberdade doleiros, corruptos e corruptores, que aproveitam suas fortunas para gozar a vida, enquanto milhões de trabalhadores perderam sua fonte de sobrevivência.
Assim como os trabalhadores, os fundos de pensão também foram vítimas desse processo. Vários deles investiram em empreendimentos, fundos de investimento e empresas das cadeias produtivas afetadas, com base em profundas análises de risco e retorno, e com a perspectiva de crescimento da economia e fortalecimento das cadeias produtivas envolvidas. A perspectiva positiva se reverteu pela atuação da Operação Lava Jato e investimentos muito promissores se transformaram em prejuízos.
Caso emblemático
Um caso emblemático do impacto da Lava Jato nos fundos de pensão é o do FIP Sondas, que investia na construção de plataformas de exploração de petróleo a serem alugadas para a Petrobras pela empresa Sete Brasil. As plataformas tinham o aluguel pré-contratado pela Petrobras – um empreendimento seguro e rentável, que atraiu investimentos de bancos como Bradesco, BTG e Santander e de vários fundos de pensão. Em decorrência da Lava Jato, a Petrobras não honrou seus compromissos e a construção de plataformas foi interrompida – tacitamente, a Petrobras reconheceu sua responsabilidade e recentemente celebrou acordo com a Previ, a quem devolveu os R$ 190 milhões investidos, e com a Petros, que recebeu R$ 950 milhões de volta.
Não se sabe como esta história entre e Lava Jato e os fundos de pensão vai terminar. Mas fica cada vez mais explícito que quando se confunde a ação da Justiça com objetivos políticos evidentes para destruir empresas e empregos, milhões de pessoas podem ser prejudicadas, inclusive participantes de fundos de pensão.
- Cláudia Ricaldoni é diretora da Associação Nacional dos Participantes de Fundos de Pensão e de Beneficiários de Fundos de Pensão (Anapar) e conselheira deliberativa eleita da Fundação Forluminas de Seguridade Social (Forluz)
(Artigo publicado originalmente no portal RBA)
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